A voz voltava sempre para a atormentar, fazendo com que Alice começasse a duvidar se era mesmo real. Mas não era o monstro que a perseguia noite após noite nos seus pesadelos que estava à sua frente. Uma pequena figura que parecia ser uma rapariga com a face oculta pelas sombras.
-Nós nunca vamos desaparecer, amor, fazemos parte de ti. Tu não podes seguir em frente e deixar-nos para trás como se fossemos um trapo velho e sujo. Vamos estar sempre aqui.
-Não és real. Não me assustas. Não mais, quem quer que sejas.
- Outra vez essa conversa! Estás a ficar repetitiva. Julgas mesmo que controlas algo aqui dentro?! Ora olhem para ela, com a ilus
No quarto do hospital o silêncio imperava, apenas quebrado pelo sinal sonoro do monitor cardíaco de Alice. Quem olhasse para Ruben neste momento poderia pensar que ele estaria a descansar em sono profundo. Mas não é o caso. Ele simplesmente não está lá. Se estivesse, provavelmente acordaria com o som contínuo que dava conta da perda dos sinais vitais de Alice.
A escuridão era irreal. Ele sabia que era um sonho mas os seus sonhos sempre o fizeram sentir-los como uma face diferente da realidade. Ruben não sentia nada, mas os seus sentidos não estavam nem adormecidos nem anulados. Apenas não havia nada para sentir. Embora esteja a caminhar, ele
Alice No Inferno: O Sonhador by SuibroM, literature
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Alice No Inferno: O Sonhador
- Como é que ela está? Houve alguma alteração....? – pergunta Ricardo baixinho assim que entra no quarto do hospital.
- Não... os sinais vitais estão estáveis, mas ela ainda não acordou do coma. Os médicos dizem que temos que aguardar com calma...
- E tu...? Como é que estás...?
- Nem sei... durante dois anos, procurei por ela, sempre com um medo mortal de que nunca mais a iria ver... mas eu sentia-a, conseguia-a sentir perto... dentro de mim. Agora, com ela aqui deitada, não a sinto... – as lágrimas caiem pela cara de Ruben – Parece que está a voltar tudo outra vez, odeio sentir-me impotente, não a conseguir ajudar.
- Precisas de descan
- Porque é que fizeste com que tudo... – o resto da frase torna-se imperceptível para Alice, mas a voz era inconfundível. Trata-se do seu pai adoptivo, com quem ela perdeu o contacto depois de cortar com o passado. As sombras afastam-se lentamente daquela figura que estava parada, a poucos metros, com uma arma apontada a si. Como se a temessem. A face que é revelada é aquela com que teve pesadelos durante os dois últimos anos. O "monstro", como ela lhe chama. Mas a voz..., era a que tantos medos lhe apaziguou, que tanto amor e carinho lhe deu. As luzes começam a surgir e quando dá por si está num hospital, no quarto de um doente. O seu pai ad
- O que vais fazer?! É suicídio tentar enfrentá-lo. Tanto quanto sei, este é o seu reino. Não sabemos o seu poder por aqui. E eu não te posso proteger mais.
- Este não é o seu reino. É o meu.! E eu vou reclamá-lo de uma vez por todas!
Ele agarra-a, tentando acalmá-la:
- Olha para mim. Eu estou aqui para te ajudar mas não te posso proteger dele. Nós temos que ir para um local seguro, há esconderijos que podemos utilizar, sítios que descobri desde que estou aqui.
- Já te disse…
Ele liberta-a e estica o braço, apontando para um portão enorme em frente à piscina.
- A porta é aquela. - Alice vê a porta pela primeira vez, podendo jurar que a
Água…
Ela estava debaixo de água. O braço que a tinha agarrado larga-a conforme ela luta para se soltar. Quando chega à superfície, inspira ar como se não respirasse há muito tempo. E tosse compulsivamente, para expulsar a água que lhe tinha entrado para os pulmões por ter sido apanhada desprevenida. Os olhos percorrem o sítio onde estava para tentar perceber o que se tinha passado. Estava numa espécie de sala com uma piscina pequena. Do outro lado da piscina, encontra-se a primeira figura que tinha visto anteriormente no espelho, a que a tinha avisado do perigo. Ele apenas a observava atentamente, esperando que as primeiras palavras fossem
O escuro. Alice sentia que o escuro tinha vida e por isso não se mexia. Não conseguia sequer respirar normalmente. O barulho intenso que a acompanhava anteriormente na sua fuga tinha cessado, mas este silêncio era igualmente perturbador. Tenta ganhar domínio sobre o seu medo e avança lentamente pelo escuro, com as mãos á frente com o objectivo de reconhecimento sobre o que lhe aparecia. Mas nada aparecia, dando-lhe a ideia de estar numa sala vazia. Até que ela toca em algo, uma superfície fria e lisa que começa a brilhar tomando a forma de um espelho igual ao que estava na sala, mas a sua imagem não reflectia. A escuridão não estava presente
Quando a pequena Alice acorda de manhã, a sua mãe já não estava a seu lado, embora ela ainda sentisse a sua presença. Ela estava só novamente e todos os medos e receios voltam. Conforme ela sai do enorme quarto e passeia pelos enormes corredores, ainda ensonada, vai reparando que algo está diferente, a casa está rodeada de sombras, mais que o normal. Ao descer as escadas repara numa boneca de trapos que se encontrava num degrau. Fica longos tempos a fixar a boneca, ela lembra-se de num tempo distante ter deitado a boneca fora. Perdeu-a como se desejava perder a si própria. Como revolta contra a ausência dos seus pais, principalmente da sua mã